Como tudo começou


Era janeiro de 2007 e eu me tratava de uma crise depressiva.
O ano anterior no trabalho não foi fácil , aliás, digo que ele foi horrível, na verdade.
Sofri demais, não compreendia nada do que compreendo hj e sofri.
Não tinha vontade de fazer nada, só ficava no sofá ou na internet chorando e amargando a vida horrível que eu tinha.
Eu era imatura também.
Mas em em janeiro tudo pareceu diferente. Minha filha tinha 9 anos e eu quis ter outro filho.
A verdade é que nesses 9 anos da minha filha, pelo menos 6 eu me perguntei se deveria ter outro filho.
Então, olhei para meu marido e disse: Nossa filha está crescendo rápido, é hora de termos outro filho, vamos ficar sozinhos.
A princípio ele não quis, depois simplesmente aceitou por ver o otimismo de volta aos meus olhos, já q eu era só tristeza e dor.
Nosso trabalho era complicado, as crises depressivas não cessaram assim, tivemos grandes perdas familiares nesse ano e eu só consegui engravidar em Julho de 2007.
E foi "sem querer".
Fui numa consulta com a psiquiatra e ela me disse: vc é portadora do Transtorno Bipolar de Humor, precisa tomar lítio, mas não pode tomar estando grávida, como sei q está tentando engravidar, vc deverá fazer um teste de gravidez.
Eu simplesmente disse que não era possível, já que minha menstruação não estava atrasada, ela foi enfática ao dizer: sem exame, sem tratamento.
Então, no dia 8 de agosto de 2007 fiz um exame de sangue.
Minha vida estava uma droga, meu casamento uma droga, a Laura pequenina em meio a tudo isso e sem perceber muita coisa.
E naquele dia eu dormi à tarde, acordei com o telefone tocando, era a moça do laboratório.
— Boa tarde, Roberta??
— Sim, sou eu!!
— O resultado do seu exame já está aqui comigo, vc quer vir buscar amanhã ou quer que eu lhe diga o resultado pelo telefone?
— Os dois - respondi
Mas de verdade, eu tinha certeza de que era negativo. Nem expectativas eu tive. Então a moça me perguntou:
— Você deseja estar grávida?
Eu ainda devia estar dormindo, tava meio atordoada e respondi de qualquer jeito.
— Sim, sim!!
— Então pode comemorar, deu POSITIVO!!
Agradeci e desliguei o telefone.
Ro e Laura dormiam um soninho da tarde no sofá então aos berros acordei os dois para contar q finalmente o sonho da Laura tinha se realizado, ela teria um irmão.
Um bebê numa casa é uma dádiva, transforma tudo.
Os médicos queriam me matar pq engravidei no meio de um tratamento para depressão, falavam q eu teria depressão pós-parto e blablabla.
Não foi uma gravidez legal, eu não me sentia bem, física e mentalmente, muitas vezes chorava achando q o bebê iria estragar minha vida, que eu não poderia fazer nada mais na minha vida, era um desespero sem tamanho e hoje, anos depois, compreendo que era apenas a intuição de mãe falando comigo.
Eu não sabia, mas já SENTIA que minha vida nunca mais seria a mesma.
Deu tudo certo, em termos. Artur nasceu de 34/35 semanas, peso bom, saúde excelente, não ficou na UTI, se desenvolveu normalmente como todas as crianças, só chorava mto, mas esse muito é exagerado, fora do normal.
Eu aderi a todas as técnicas possíveis para trazer qualidade de vida ao meu bebê: cama compartilhada, sling, colo, teoria da esterogestação aliados à amamentação exclusiva.
Deu tudo certo, tivemos mais qualidade de vida e valeu mto a pena, tivesse outro filho, seria tratado da mesma forma.
Artur fez tudo o q todas as crianças faziam, mas com 1 ano de idade as coisas começaram a ficar um tanto diferentes, nós encarávamos como normais, até pq cada criança tem seu tempo e eu acho q isso DEVE ser mto respeitado. Ele não falava, não andava, mas ainda era cedo, engatinhou com 1 ano, achávamos que nem ia, até pq ele já andava segurando nas coisas desde os 10 meses.
Com 1 ano e 2 meses, nós o chamávamos e ele não atendia, um dia meu marido disse: 
— Esse menino parece surdo, sabia?
Eu ralhei feio com ele, de onde ele tirou isso?
Em 2009 eu tive mais problemas com o trabalho, sérios, graves e adoeci novamente, não houve como não me sentir morrer por dentro. A minha vida tomou rumos onde nunca imaginei, definhei praticamente até a morte, mas não morri.
Julho foi um mês terrível, agosto comecei a me recuperar do susto  e foi justamente nessa época que Artur mudou.
Só chorava, ficava deitado no chão, ou se balançando feito um sapinho. Estranho.
Em setembro não dava mais! Artur tinha 1 ano e 6 meses e não andava, Por que? Já que desde os 10 meses ele dava sérios indícios de q estava pronto? Ele não atendia a nossos chamados, não sorria mais, não respondia a estímulo algum.
Então foi aí que aconteceu tudo na creche, onde notaram que ele era autista e preferiram enxotá-lo de lá, foi então que minha amiga amada Anne me ajudou alertando-me para o autismo.
Eu senti um gelo na espinha, senti enjoos tbm, não sabia o que era, achava o que todos acham: autistas ficam num canto de balançando. E mais, naquele momento, era somente o q Artur fazia.
Me muni de coragem e pesquisei na internet o que poderia ser e para a minha surpresa, descobri o que era autismo e mais, tive a certeza de que meu filho era autista.
Sempre digo e é verdade de que não ouve um dia que levei meu filho em uma consulta médica esperando que dissessem que ele não era autista, pelo contrário, precisava da confirmação para dar os primeiro passos e procurar o tratamento.
Eu não conhecia nada, nem ninguém q tivesse um filho com espectro autista, então saí atrás. Procurei comunidades no orkut, sites, pesquisas, tudo, mas nada foi satisfatório, muitas vezes me virei sozinha, outras mais tive q dar força para as mães que encontrei, mas foi bom. Eu não tinha tempo para adoecer de novo, eu não tinha tempo para prestar a atenção na dor que era, eu apenas fui atrás de meu filho.
Resolvido tudo, já estávamos em Julho de 2010, então foi aí que meu luto apareceu.
A dor de perder um filho, a dor de não ser a mãe q todo mundo é, a dor da perda, de morrer e nascer de novo.
Engraçado que tudo em minha vida sempre foi assim.
Eu não gosto de restos. 
Eu não sei ter coisas presas em meus braços e minhas pernas.
Eu prefiro me desfazer de tudo e começar novamente, do zero, mas com a realidade atual do momento.
Eu sempre fui assim, desde muito nova.
Claro que sofro mais, mas chego a pensar que diante de pessoas que conheci ao longo da vida, estou mais do q certa.
Não recomendo morrer e nascer de novo, pode ser que um dia não tenha volta.
Mas hoje, eu gosto de ser quem nasci.
Tenho orgulho de mim.
Não sei de tudo, não sou perfeita, eu peco em muitas coisas, mas eu aprendi a dar o melhor de mim e tentar conviver com o pior.
Meu e das pessoas.
Acabou o conto de fadas.
Acabou a procura do príncipe encantado.
Acabou a "mais main" e a "menas mains".
Acabaram os protocolos.
Hoje eu apenas sou a mãe do Artur e da Ana Laura.
Uma mulher forte, mas q se deixa sentir fraca às vezes para não perder o rumo da prosa.
Pela felicidade dos olhos de meus filhos, vejo que estou no caminho certo.
Hoje eu sou uma pessoa feliz.
Quando digo que meus filhos são tudo em minha vida, não significa que são minha muleta, significa apenas que foi com eles que eu aprendi o verdadeiro sentido de viver.
Cada um atrai para si a dor necessária para seu crescimento.
Muitas coisas só aprendemos com a dor. É natural do ser humano.
Há quem nem a dor ensine. 
eNão sinto mais ódio e amargurada de sofrer, eu apenas olho para o céu todos os dias, dou uma risada pra Deus e digo:
— É comigo, né?? É pessoal, né? Então, ajudaê, preciso aprender!! Que seja da melhor forma possível e o mais rápido possível, pq quero mudar de fase logo.

Então, nunca mais as crises depressivas foram avassaladoras, nunca mais senti que faltava um pedaço de mim.
E NUNCA mais me senti sem esperança.
Posso morrer muitas vezes ainda, mas é com ela, a esperança, que me renovo a cada dia......

VIVA a minha vida.!!!
VIVA o Autismo!!!
VIVA o tanto que vc e eu pudermos crescer!!!

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6 comentários:

Daniela Gonc on 14 de outubro de 2012 às 12:29 disse...

Cada um sabe a alegria...
E a dor que trás no coração...

Linda!

V. on 14 de outubro de 2012 às 12:40 disse...

Oi Roberta!

Linda postagem... É engraçado como o autismo nos tranforma, abre nossos olhos para o que realmente importa na vida. O caminho nem sempre é fácil mas ele tem seu valor, moldando nossos corações, nos transformando em seres mais humanos, menos indivíduos e mais corações...

Felicidades para vc, para o Artur e toda a famíla...

:)

Eu não sou ninguém on 14 de outubro de 2012 às 12:42 disse...

Dani, Pávula, obrigada viu??Beijos

Karen on 15 de outubro de 2012 às 17:38 disse...

Achei lindo Ro!!! Mãe, guerreira, carinhosa, dedicada!!! Parabéns!!! Adoro acompanhar o desenvolvimento, as mudanças, as conquistas de vcs!!! Bjos!!!!

Unknown on 17 de outubro de 2012 às 11:06 disse...

nossa...eu sempre me admiro quando venho aqui...suas palavras realmente tocam....voce tem isso de meio poeta....é lindo.;;;;

parabens por suas lutas e vitorias...
parabens por passar por tudo, pelo fato de ter dois filhos maravilhosos e que sao a razao de seu viver...


beijunhos
meus e da GIGI

Unknown on 17 de novembro de 2012 às 17:44 disse...

Linda historia, me emocionei muito. Parabéns você é uma guerreira.

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