O que o autismo fez com a minha vida.???


Primeiro eu não tinha nada.
Depois eu tinha um autista.
Fiquei sem nada de novo.
Mas deixando todo esse começo de lado, toda a luta que tivemos pela adaptação a nosso novo filho, eu quero falar dos meus erros.
Quero falar do meu medo e ver se eu consigo chorar.
Tá foda demais, sinto que vou explodir.
Enquanto percorro esses 4 anos do meu blog, comentários e mais comentários elogiam a minha luta.
Foram quatro anos para me adaptar a meu filho, para criar um mundo em nosso lar onde nosso filho se encaixasse e os outros membros da família não fossem excluídos.
4 anos e tivemos muito sucesso.
Perfeccionista como sou, aliás disse isso na última postagem, não poderia deixar de sofrer pelos erros que cometi.
Pausa para pensar nos traumas......
Antes do autismo, passei por momentos profissionais muito difíceis. Quem viveu comigo tá vivo até hoje para confirmar, não foi fácil.
Eu surtei, enlouqueci quando "me deixaram louca".
Essa frase resume tudo.
Um dia foi muito conveniente usar o transtorno bipolar à favor do mau-caratismo, não meu, claro.
Se eu 'ficasse doente' não iria atrapalhar e como se fosse a coisa mais simples do mundo, e creiam que foi, 'fiquei doente'.
Fiquei doente, era um risco ao trabalho, o meu trabalho fazia eu correr riscos e um blablabla do kct.
Ao mesmo tempo que em mil atestados eu era apedrejada com a palavra incapacitante, em momento algum a minha vida pessoal com relação a minha doença foi questionada pelos médicos que 'me tratavam'.
Ao mesmo tempo que eu estava enlouquecida, eu cuidava dos meus filhos, da minha casa, da minha vida como qualquer pessoa normal enlouquecida de ódio com tamanha injustiça.
Mas também deixando isso de lado, citei apenas para falar do medo que me impediu de fazer o que deveria fazer ou até mesmo usando como uma desculpa esfarrapada para justificar o que eu não fiz.
Eu não fiz.
Quando eu vi que meu filho era autista e quando eu vi do que um autista precisava e quando eu consegui o que ele precisava, eu me calei.
Por ser contestadora, por ser 'caruda' e aquela pessoa típica que tem a capacidade de ver a verdade e falar, tive minha vida profissional transformada nesse inferno que descrevi.
De repente, vi que a vida do meu filho em partes também eu também teria que ser e que diante das circunstâncias, ia esbarras nos mesmos lugares onde tropecei.
Tive medo e me calei.
Pensei e agi que era melhor ficar calada, sempre que abri a minha boca para falar sobre os necessitados, os necessitados eram donos de si e me perdi sozinha com as consequências de falar demais.
Coitadismos à parte, eu me calei diante do meu conforto.
Criei um blog e falei das dificuldades que enfrentávamos e enfrentamos.
Deixei minha alma falar.
Pensei, repensei e repenso sempre tudo o que digo aqui para não afetar ninguém.
E assuntos que poderiam afetar, calei, em respeito às mães que iniciam sua luta ou às mães que como eu, mascaram sua dor com paliativos (remédios, profissão, casamento, etc.).
Fiquei bastante ocupada, é fato.
E por 4 anos tudo isso me preencheu.
Desde que me deparei com meu filho no Espectro Autista, suas necessidades e as condições do país e principalmente da minha cidade, eu soube o que tinha que fazer.
Sabe o que eu fiz?
Dei as costas.
Tive medo.
Não tenho vergonha de dizer que tive medo.
Não me sentia e nem me sinto pronta para o que é preciso fazer.
Mas quanto mais o tempo passava, quanto mais as coisas aconteciam e quanto mais eu via a maturidade que adquiri nesses anos eu sabia que eu tinha que fazer o que deve ser feito.
Então eu estava num mundo perfeito, protegida com meu campo de força perfeito e do nada tudo desabou.
Quer dizer, do nada não, não sou cega, nem tonta, sabia que o fim estava próximo.
Sabia que meus objetivos com meu filho não estavam sendo alcançados, mas ao olhar em volta, deparei-me com o NADA.
E o NADA assusta.
Assusta a mim, você, todos nós que temos capacidade de escolha, de lutar por nossos objetivos, mas olhar para nosso filho indefeso e se deparar com o NADA é dilacerante, admito.
Tem 1 mês que não repouso, durmo, chamem do que quiser.
Raras são as noites que consigo dormir 6 horas sem acordar nenhuma vez.
Tenho tudo em mente o que é preciso fazer.
Mas não sei como fazer.
Não estou com pressa, mas o tempo urge e urra na minha mente como se cada minuto perdido fosse a esperança de meu filho jogada fora.
Me culpo todos os dias por ter deixado de fazer o que era preciso.
Eu odeio ficar me remoendo, acho imaturo demais. Errou, errou, sabe?
Limpa a porcaria que restou e começa por onde dá, fazendo o possível e quando vir, estará tudo engrenando novamente.
Mas quando é com nosso filho parece q dói mais.
Claro que eu tenho maturidade suficiente para entender que esse tempo foi o tempo que eu precisei para AMADURECER.
Hoje eu já não sou mais aquela menina contestadora.
Me tornei uma mulher que entendeu que sim, alguém que tem capacidade de observar coisas erradas é alguém inteligente.
É muito importante você ser uma pessoa observadora e formadora de opiniões, contestar coisas que julga erradas, mas aprendi hoje que se você não tiver argumentos maduros para projetar suas ideias no mundo você não é ninguém.
Torna-se tão ignorante quanto aquele que tapa os olhos com a peneira e não quer ver.
Não basta apenas ter a capacidade de ver o negativo a sua frente.
A maturidade está no que você vai fazer com o negativo.
Que caminho ele irá tomar?
Que proporção o negativo terá para interferir na sua vida?
O negativo lhe transformará numa pessoa negativa?
Não, não basta olhar as coisas erradas do mundo e falar, gritar, reclamar.
De nada serviram as denúncias sem uma apuração precisa, real e justa dos fatos.
Então precisei de 4 anos para amadurecer meu senso crítico.
Entendi que vou precisar correr atrás, criar oportunidades.
Infelizmente não tenho tempo e nem consigo fazer tudo sozinha, precisarei de pessoas e fica outro medo: lidar com 'gente'.
Gente é um bicho esquisito.
E além de lidar com gente, terei que lidar com gente que tem dificuldades, gente que tem suas dores particulares e também terei que enfrentar um medo tremendo que tenho: confiar em gente.
Crer que essa gente vai ter o mesmo ideal que o meu, me preencher de informação consistente, conseguir atravessar muralhas e lutar pelos direitos do meu filho.
Estou engatinhando.
Esses 33 dias me parecem suficientes para me mostrar que eu não vou conseguir outra alternativa.
Tenho sonhos, sonhos grandes, mas também tenho medo.
Medo porque bipolares sonham demais, né?
Medo porque até tenho os pés no chão, mas a cabeça, ahhh a cabeça ....sempre foi nas nuvens......

Sinto que preciso seguir em frente, mas não me sinto segura.
Orem por nós.
Meus propósitos são dignos e baseados no bem comum.....obrigada.


"Tentar te privar da dor, é quase tentar te privar do amadurecimento."
Pedro Medeiros



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1 comentários:

Daniela Laidens on 25 de abril de 2013 às 20:55 disse...

Vais conseguir. Já estás conseguindo. E eu estarei sempre por aqui para compartilhar esta vitória!

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