Quando eu era criança eu já sabia e sentia que Deus tinha planos diferentes para mim.
Eu era diferente de outras crianças, eu era carente demais também.
O que eu levava dentro de mim é que eu nunca seria uma pessoa comum, que eu tinha vindo ao mundo para fazer alguma diferença.
Hoje, se meu psiquiatra lesse isso diria: Bora aumentar a dosagem dos remédios, bipolar sequelada??
Mas eu quero que ele se dane. Ele está certo e errado.
Durante toda a minha vida eu precisei de remédios sim, mas o meu remédio sempre foi as lições que a vida me deu.
Nunca houve um rivotril que mudasse a minha vida, em contra partida não houve uma dor que não me fizesse crescer.
O que me entristece é olhar para mim e ver o quanto eu era e sou pequena, porque o tanto de dores que já vivi, dariam para contar num livro.
Aliás, muita gente ao saber da história da minha vida me pergunta porque eu não encaro o desafio de escrever um e eu sempre respondo que não sou digna, algumas partes da minha vida são recheadas de episódios ruins, vergonhosos. Deixa tudo lá adormecido que é melhor.
Eu tenho um irmão, ele é dóis anos mais novo do que eu e ele sempre foi 'diferente'.
Gente, eu sempre digo: Ser diferente 30 anos atrás era um martírio.
Meu irmão tem o diagnóstico de encefalopatia crônica. Ele sempre teve atraso no desenvolvimento. Até poderia ser um autista, mas não é.
Era tudo tão difícil, as crianças não eram ensinadas a respeitar as diferenças, não existia nenhum trabalho para mostrar que as diferenças existiam e assim que eram notadas, quem as possuía virava motivo de piada.
Quantas, quantas vezes na minha vida me vi socando, metendo porrada, pedrada e paulada em marmanjo que fazia piadinhas com meu irmão.
Então, eu cresci assim, no meio do preconceito, no meio da podridão do ser humano.
Por isso mesmo antes de ter um filho e um outro irmão especial, eu nunca, nunca concordei com a falta de respeito com as diferenças entre as pessoas.
Sempre achei uma pessoa que é capaz de rir de alguém que possui dificuldades muito mais podre do que alguém que tem coragem de beijar uma pessoa do outro sexo, aliás, serei bem honesta, uma comparação dessa para mim nem faz sentido.
Porque para mim, onde existe amor, existe beleza. Onde existe respeito, tem que ser respeitado e pronto, fazer uma comparação como essa, beira o ridículo para mim, mas algumas pessoas fazem, né?
Meu irmão não teve tratamento, meu irmão não teve ajuda de ninguém além dos meus pais.
Sempre critiquei a forma que meus pais mimaram meu irmão. Sempre critiquei a forma que o super protegeram.
Mas sabe, hoje é dia de pedir perdão por julgá-los.
Perdão papai e perdão mamãe.
Hoje, 30 anos depois, a vida é tão linda.
Tem leis protegendo nossos anjos, tem gente em cada canto do mundo defendendo as diferenças, hoje temos tratamentos, hoje temos psicólogos para trabalhar nossa dor e ainda assim, tenho vontade de colocar meu filho em meus braços e não deixá-lo mais sair. Vontade de protegê-lo das pessoas cegas, das pessoas que não sabem lidar com as diferenças, do mundo.
Eu tenho uma forma muito diferente de pensar, de tratar meu filho.
Eu sou uma mulher mais dura, que vive preocupada com o amanhã, então, eu tento criar meu filho para o amanhã.
Em toda minha vida me perguntei porque vocês super protegiam meu irmão. Em toda minha vida achei isso completamente errado.
Muitas vezes brigamos, discutimos, nos magoamos porque simplesmente eu não conseguia entender.
Eu tenho um marido maravilhoso, eu tenho uma filha linda que me ajuda e vive para nós. Eu tenho amigos lindos.Eu tenho um DEUS que nunca me abandona.
O que vocês tiveram???
Vocês não tiveram nada. Vocês apenas tiveram o amor.
Hoje, olhando para meu irmão, tentando ser feliz a seu modo, tentando morar sozinho na rua ao lado, sabendo ler, escrever, fazer contas, passando o dia na frente do notebook, eu só consigo pedir a Deus, que eu consiga que meu filho tenha conquistas assim também.
Sim, eu nunca disse isso, mas hoje vou dizer, eu tenho muito orgulho de vocês.
Sim, hoje eu entendo porque ele era tão querido, porque ele tinha mais atenção do que eu e peço desculpas pelas crises de ciúme.
Olho para minha vida e dou risada, tamanha a ironia que é.
Cá estou eu, com uma filha mais velha que foi filha única por 10 anos e um filho mais novo que tem dificuldades. Faço malabarismos, faço buscas no meu passado, vasculho tudo procurando não cometer coisas que eu julgo erros e tentando acertar no que acertaram.
Talvez, se vocês tivessem feito tantas outras coisas que não fizeram, ele fosse mais do que é, vejo potencial nele para isso, talvez tivesse ido mais longe, mas ao mesmo tempo, vejo o melhor dele, porque vocês deram o melhor de vocês dentro das possibilidades disponíveis.
Comparar como meu irmão foi criado com a forma que meu filho é criado seria tamanha injustiça.
E eu estou crescendo, deixando de ser aquela menina carente e ciumenta, eu estou crescendo aprendendo a ser mãe, a ser uma mulher digna, como vocês sempre disseram que eu deveria ser.
Então hoje, a minha postagem é de pedido de desculpas por ser tão injusta com vocês e para agradecer por nos dar tanto amor e ensinamentos.
E digo mais, sei que para vocês dois, isso vindo de mim, é algo sublime, porque eu sou casca dura, eu sou aquela pessoa que não dá o braço à torcer, eu sou aquela 'ogra', grossa que vocês sabem que eu sou, mas eu sou quem ama vocês.
Beijos Mamãe e Papai, amo vocês!!!!
3 comentários:
Parabens!!!Pelo o que eu li aqui, é de verdade o que sinto e nao sei transformar em palavras.Eu sou bastante intolerante, e sincera, nao suporto injustiça.Ontem fui com meu filho na pracinha,(aqui na rua de casa moram 3 mulheres e uma menina de 5 anos, aqui existem varias lendas sobre elas, pois sao estranhas, vivem dentro de casa, nunca abre a janela, nem as portas, e nao falam com ninguem, a mae da menina parece q tem problema mental, e quem cuida daa meniina é a tia, ela fica pra cima e pra baixo com a menina no colo.)quando cheguei na pracinha, ela tava la brincando com a menina, meu filho tem 4 anos e tem problema na fala,notei que nenhuma criança brinca com a menina, meu filho se aproximou da menina e começou a falar o ingles dele, ai começaram a brincar, derrepente a mulher começou a conversar comigo, ai ela falou que a menina começou a falar com 4 anos e disse, me perguntou como fazer pra tirar a fralda noturna da menina etc...Voltamos juntas e meu filho de maos dadas com a menina, e todo mundo me olhando como se tivesse fazendo alguma coisa errada.Eu tenho vergonha é desses olhares de indignação, quer dizer que só porque nao andam bem vestidas que nao podem ser respeitadas.Conversando com aquela mulher eu vi sim que ela é imatura pra idade dela, acho que ela é sim "Estranha", no jeito de falar, a menina é inteligente e falante, quase manda nela.Eu aprendi muito com o jeito que elaa brinca com a menina, ela ama de verdade a menina e cuida pra que ela seja feliz, enquanto as outras maes apenas olham.Os olhos dela brilham quando a menina chama ela de mae, mesmo ao sendo.Ai!!! Acho que escrevi demais né? Desculp, acho que nossos filhos precisam que a gente entre no mundo deles!!!
Filha, como você escreve bem me emocionou muito. Você sempre foi grande, independente por isso Deus te escolheu pra ser a mãe do Artur. Quero que saiba que não sei escrever como você mas sei sentir. Obrigada por você ser como é, vamos aprendendo com com nossos erros tudo é aprendizado, cada pessoa realiza sua missão como pode, como sabe, mas pode ter certeza todos nós tentamos fazer o melhor. Precisamos descobrir que as mães não são perfeitas. Te amo OGRINHA.
Nandah Lopes, infelizmente o mundo ainda não está tão pronto para receber as diferenças. Tudo vem da criação que damos a nossos filhos. Depende de nós acabar com isso. Fiquei muito feliz com a sua atitude e a do seu filho tbm.
Mtos beijos.
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