Mãe # Progenitora


"Hj no trabalho, mais uma ocorrência de apoio ao Conselho Tutelar. Fui preparada. Ocorrência no Pronto Socorro, denúncia de maus tratos. Vi um mini flashback passar em minha mente, quando em, anos atrás, chorei muito, o dia todo. Ouvir no rádio o chamado de q existe uma ocorrência desse tipo soa mal para meu coração q teima em ouvir esses chamados.
Sou responsável pelo plantão todo, poderia ter mandado outra viatura, mas não sei o q me deu, eu fui. Comentei com a Nova Conselheira de Tutelar q estava de plantão, da ocorrência de anos atrás.
Cheguei, eu não precisava entrar, estava apenas apoiando, na verdade, conduzindo a conselheira até o local, mas eu entrei.
Fui até os fundos e ouvi quando o médico disse que a criança estava desidratada, que não tinha nem lágrimas para chorar a sua dor e ouvi a palavra "infestado". Gelei!!!
Não poderia ser, outra crianças com piolho, que virou ferida, que a mãe não cuidou, que a mosca botou ovos e a cabeça se "infestou" de bernes.
Não !!!! Impossível existir mais de uma mãe assim!!
Eu me enganei, vc tbm!!!
Entrei no quarto.
Deparei-me com um ponhadinho de cabelos louros, amarradinhos, uma camisetinha e calça cor-de-rosa. Ela era grandona. Resolvi Registrar a Ocorrência, estava com tudo nas mãos, teria q fazer mesmo, resolvi colher os detalhes daquilo.
Lá estava a pequena, nascida em Dezembro de 2007, qse a idade do Artur, olhei para ela, chorando, sorinho numa mão e na outra agarrada à mão da tia.
Maldita seja a progenitora dessa menina, que pari como quem profere os palavrões que eu disse agora.
Deixar de tratar de um furúnculo, deixar inflamar, deixar virar ferida, deixar de dar antibióticos, não deixar que outras pessoas tratem, deixar a ferida aberta até q uma mosca, tão escrota quanto ela, venha pôr ovos ali e deixar os bernes se proliferarem.
Ouvi da enfermeira q a tia diz q a ferida existe mais ou menos há duas semanas, ouvia a enfermeira dizer que os bernes no estado em q estavam, tinham mais q três semanas de vida. Ouvi que eles tiraram 15 e que iriam hidratá-la para tirar mais, muito mais.
Saí de lá confusa, queria chorar, chorar muito, mas o quarto estava cheio. Guardas Municipais, uniformizados não choram. Mentira, eu olhei para ela e vi o rosto do meu filho. Chorei.
Engraçado q, na minha cidade, para ser Conselheiro Tutelar, não precisa muita coisa. Basta se eleger e pronto. A Conselheira me disse: - Vou levá-la para o abrigo! Com a mãe ela não fica!!
Eu olhei para aquele ser, indefeso, segurando ainda a mão carinhosa da tia de segundo grau, os olhos marejados de lágrimas da tia e falei: - Não!!!! Ela não vai! Olha o estado desse bb, ela precisa de cuidados, de higiene, de carinho, afeto, um olhar meigo e doce quando forem "machucá-la" novamente de um colo que lhe acalme e isso tá aqui na nossa frente. Hj é vc [conselheira] quem decide a vida dessa criança e das outras duas q essa miserável conseguiu ter.
Se vc levá-los para o abrigo e amanhã tiver algum juiz acomodado no Fórum [infelizmente aqui às vezes aparece um desses] e as crianças vão mofar lá. Deixe-as com a tia, ela quer, ela cuida, ela já é quem sustenta, amanhã, na frente do juiz, ficará mais fácil ele dar a guarda provisória para ela.
Não sei o q houve naquele momento, Deus, só pode ser Ele, mas Ele e a conselheira tutelar me ouviram.
Ouvi um SIM como resposta, mesmo pq, para a própria Conselheira seria menos trabalhoso.
Saí de lá, chorando, chorei, ouvi ao telefone q o Corinthians havia feito seu primeiro gol e nem isso me alegrou.
Eu morri por dentro, só pensava naquela menina, no meu filho, no quanto eu aprendi as coisas e cheguei a pensar: É e elas ainda debatem que não existe menas mãe e o que é essa mulher que tem 4 filhos, uma deficiente, duas jogadas e a outra no estado que eu vi????
Não, ela não é menas mãe, ela apenas foi a progenitora daquele lindo ser q eu vi, quando voltei,
com os olhos mais brilhantes, sentadinha, mastigando uma sopinha deliciosa que a titia querida estava a lhe dar. Ela pegou na minha mão e eu disse oi.
Mas, como sou pessimista às vezes, pensei: Logo esse sorriso vai sumir, melhor eu sumir tbm.
Falei, falei e falei mais mil vezes coisas para a Conselheira para ter a certeza de que a princesinha loira ficaria com a titia e ela prometeu-me que sim e q ia dar notícias.

Saí de lá melhor, confortada, mas infelizmente acabou meu plantão, não foi eu quem foi na casa da progenitora daquela belezinha, não foi dessa vez que eu poderia fazer justiça com as minhas mãos. É sempre assim, nunca dá, eu nunca vou, sempre perco a melhor parte. [esse é aquele tipo de pensamento que dá, mas passa, juro, nunca bati em ninguém, ainda, mas já fui segurada].

Cheguei em casa, Corinthians 3X1 Santos, mas eu não tava bem, a gripe me pegou. Eu estava estranha. Marido sabe, me levou pro quarto e me abraçou.
Chorei de novo, compulsivamente, com todas as minhas forças e disse q enquanto eu ouvia tudo aquilo e via, pensava mil coisas, uma delas era pegar aquela menina e sair correndo para casa, dar todo o meu amor, igual dou aos meus filhos.

Ele, como sempre, disse em suas sábias palavras:
- Vc foi extraordinária, vc mudou a vida daquela criança, vc fez a diferença. Tudo o q estava em suas mãos vc fez, o q não estava, vc tomou. Sim, vc pegou aquela criança em seus braços e deu um novo destino a ela. Sinta-se orgulhosa, eu sempre me orgulho de vc! E quem dera um dia essa menina possa saber o q vc fez por ela.

Eu não me senti da forma q ele disse, tipo, eu sou uma heroína, mas eu senti apenas que eu aprendi tudo sobre amor, sobre lutar, sobre olhar para um bb e entender do que ele precisa.
Eu pensei demais em tudo q aprendi com tantas pessoas aqui na internet. Principalmente na PR... coisa que muitas vezes eu disse e pensei ser besteira até mesmo frescura.


Não sei qual o desfecho, mas sei q vai demorar dias para eu fechar meu olhos e ñ vê-la misturada com a imagem de meu filho.
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